O Mar!
Cercando prendendo as nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias, batendo a sua voz de encontro aos montes,
… deixando nos olhos dos que ficaram a nostalgia resignada de países distantes …
… Este convite de toda a hora que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir e ter que ficar! …
— Poema do Mar, Jorge Barbosa

Em memória de Luiz Rendall, Músico Caboverdiano

Viveu entre 28 de fevereiro de 1898 e desencarnou em 4 de dezembro de 1986, aos 88 anos. Nasceu em São Vicente, onde desfrutou de sua infância e parte da sua vida como funcionário público.

Aos 7 anos de idade aprendeu os primeiros acordes básicos com o único tocador de violão então existente em São Vicente (diz-se), por sorte, seu vizinho, o qual ministrava as lições de forma muito original.

Luis Rendall é uma figura ímpar na cultura cabo-verdiana, na vertente da música, encontrando-se o seu nome no rol daqueles que Cabo Verde evoca com saudade, carinho e gratidão, pois efectivamente deu voz à alma crioula nas suas belíssimas mornas, na magia do seu violão e, principalmente, nos seus famosos solos.

Vivia na Boa Vista como funcionário público, mas tornava-se maior quando se encontrava com os grandes tocadores de violão de Sao Vicente de sua época, como, Lela Preciosa, Antonzinho, e o seu aluno Angelo Lima, era um presente ouvi-lo,  foi magistral e inconfundível.

Luis Rendall, continua uma referência entre os grandes artistas de nosso país, porém uma referência obrigatória no contexto cabo-verdiano, para novas gerações.

Segundo o site Fotolog, Luis Rendall,  era considerado  "o pai do solo do violão cabo-verdiano".

Criador das mais belas composições da mùsica instrumental cabo-verdiana que, infelizmente, não foram salvaguardadas, ficando poucos para a posteridade. Existem apenas dois LP's "Cabo verde e seu compositor" e "Memorias de um violão", três singles de 45 rotações e cassetes gravadas pela Ràdio Nacional. Hà também trechos de um documentàrio sobre o mestre, produzido pela Radiotelevisão Portuguesa, guardados nos arquivos da Televisão de Cabo Verde.

Fora a mùsica, foi guarda-fiscal, continuo do liceu e faroleiro na Boavista. Chegou a tocar na Banda Municipal de São Vicente.

Participou na Exposição Colonial, em Setembro de 1934 na cidade do Porto. Segundo noticias dos jornais da época "O Século" e "Comércio do Porto", o dia de Cabo Verde na exposição foi marcado por uma tarde cultural em que Luis Rendall e seu grupo interpretaram temas de B.Leza e de Henrique Lopes Tavares.

Muito mais tarde voltaria a Portugal, numa inesquecida jornada, num conjunto em que faziam parte também Agostinho Fortes, Celso Estrela, Taninho Evora (violões) Djosinha, Titina, Mité Costa e Arlinda (cantores), tendo ali registado, pelo menos, um single de 45 rpm.

Prestamos esta homenagem ao mestre do violão Luís Rendall, nesta data em que relembramos o seu 116º. Aniversário de seu nascimento, com esta gentil crônica dedicada ao inesquecível mestre, com a seguinte nota:

Escrito no dia de sua desencarnação, 04 de Dezembro de 1986, após ouvir o anúncio da mesma, na Rádio Nacional de Cabo Verde. Tivemos  a honra e o prazer, eu e meu marido Antão da Luz, de  receber o amigo Luiz Rendall, em nosso lar, algum tempo antes de sua desencarnação, aquando da passagem  de um dos aniversários de meu marido. Naquele inesquecível dia, ouvimos, embevecidos, os sons harmoniosos de sua maravilhosa e sempre lembrada música.

UM NOVO FAROL BRILHA NO HORIZONTE

Todos choram, todos reclamam, todos lamentam a perda que Cabo Verde acaba de sofrer.


Em mim, porém, nasce a interrogação:
- Será de chorar?
- Será de reclamar?
- Será de lamentar o desaparecimento físico desse que nos fez vibrar, rir de encanto, chorar de emoção ao ouvi-lo dedilhar seu violão?

Creio que nada disso traduzirá o muito que se fará sentir em nossas almas.

Se nos associarmos à sua lembrança e pensarmos que aquele que foi outrora faroleiro se transformou ele próprio em farol, o choro dará lugar à nostalgia da saudade, não nos deixará reclamar a sua partida, pois ela tem que ser certa para que da noite nasça o dia, e, com ele um novo sol desponte mais brilhante e mais quente.

Tu, Luís, deixaste de “existir”, mas tua estrela despontou e hoje não tens nome. Hoje és vida, és calor, és luz. És uma estrela entre tantas que nos iluminam, nos inspiram, e, dela estou certa algo há-de nascer.

Não há que lamentar, mas sim recordar com saudades e tentar imitar tua devoção.

Feliz de ti que partiste deixando saudosa lembrança!

Teus dedos dedilharam a antecipada vitória, a música por ti criada ficou para nós como bálsamo para nossas dores.

Música que nos embala, nos lembra um mundo melhor, nos faz, enfim, esquecer as agruras da vida.

Parabéns a Ti que de faroleiro em farol te tornaste!

Aqui fica meu sincero voto:

“QUE NA ESTRADA CRIADA PELA PROJEÇÃO DE TUA LUZ OUTROS
CAMINHOS SE ABRAM RUMO A NOVAS VITÓRIAS”

Por Aida Almeida Lopes da Luz.

Luis Rendall no ensaio para as gravações de "Guitar e Mi"

 

Fogo di Mar - Homenagem a Luís Rendall - Miluzinha

 
Fogo di mar - Homenagem a Luís Rendall - Perã

 
Fonte:
Wikipedia,
Fotolog,
Esquína do Tempo e,
YouTube